quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Porto,  21 de Fevereiro de 2013, 00:24

Querida Avó,

     Aproxima-se cada vez mais o dia. É verdade (como diria a minha sábia psicóloga) que não devia haver data marcada para se ficar triste, mas é o dia que me traz mais lembranças. Eu queria que me tivesse visto a entrar na faculdade e por ai adiante. Lá no fundo espero que esteja a ver. Não sei como aguento, mas aguento. Não consigo passar por uma pessoa triste, mesmo quando lá no fundo só me apetece desaparecer.
    Já passou tanto tempo e parece que ainda há dias estava a sair do liceu para ir ter consigo ao hospital. Como é possível ter desaparecido assim? Não vou dizer que não merecia, porque se calhar merece mais estar onde está do que no sofrimento deste manicómio terrestre. Um grande grupo de desorientados, viciados em maldade e obscuridade, sem perceber que o melhor da vida está mesmo ao nosso lado. Se calhar ainda estou aqui porque eu própria ainda não cheguei a essa conclusão.
     Fiz muita coisa que me envergonho, mas a pior foi ter lhe abandonado no seu ultimo momento, dizendo-me que era o melhor, porque não ia querer que a visse assim, mas foi por razoes egoístas  Por não ser forte o suficiente para vê la ir assim, fugir das minhas mãos. É e será dos meus maiores arrependimentos. Amo-a tanto que até dói, e sinto-me tão só, sem ninguém  Muito provavelmente porque afasto toda a gente à minha volta, não sei porquê. Não me quero magoar mais, e já percebi que deixar as pessoas se aproximar é pior. Muita desilusão.
    Não consigo perceber porque raio (desculpe a linguagem) eu sei exactamente o que está de errado comigo, e no entanto não consigo corrigir. Serei assim tão preguiçosa, sem força e vontade para nada? A última vez que me senti capaz de tudo e mais alguma coisa foi quando comecei a namorar com o João que era capaz de ir ao Caniço a pé só para lhe fazer um chá e voltar. Sou assim tão desesperada por atenção que só tenho vontade de viver quando estou com alguém? Porque é que não podias estar aqui só para me responder a estas questões? Preciso de alguém que me perceba, que não me julgue, que não brigue, que me dê umas palmadinhas nas costas mesmo que não as mereça.
     Quero sair daqui. Começar do zero. Ir para o outro lado do mundo se for preciso. Ver novos sítios, novas pessoas. Pessoas que não conheçam o meu passado que sinceramente não presta para nada. E só tenho 18 anos, triste deveras.
     Espero que estejas bem e no teu melhor,

Beijos eternos,
A tua neta, Ana.

domingo, 3 de fevereiro de 2013


Porto,  3 de Fevereiro de 2013, 13:53

Querida Avó,

     Sinto-me só. Eu sei que digo sempre isto, mas é a verdade. Ontem o Diogo leu-me as cartas de Tarot e bateu tão certo Avó! Ele disse que eu queria começar de novo, mas que tinha de deixar o passado para trás. Pensei logo em si. Não fiz o luto por si, e não sei se consigo fazer. Sinto-me tão fútil. Nunca lhe dei o valor e agora acho-me no direito de dizer que era uma pessoa importante para mim? Talvez a mais importante? Devo ser mesmo desesperada por atenção.
     A Mariana tem razão. Eu sou simplesmente uma preguiçosa. Sinto-me tão mal por usa-la como desculpa para não fazer algo da minha vida. Mas a verdade é que nem tenho vontade de vivê-la. Não há nada que me entusiasme. Nada que me faça ter vontade de sair de casa e aproveitar o dia! Só me apetece ficar nesta cama, neste quarto, nesta casa, até o ''tempo'' chegar ao fim. Ponho ''tempo'' entre aspas porque na verdade o tempo não existe, foi inventado pelo Homem porque não aguenta o caos, e até a nossa existência na Terra temos de contabilizar.
     Nós não passamos de meros corpos a expressar aquilo que a nossa energia é neste momento. Eu sei se agora a Avó não é uma planta na mais bonita floresta que existe? Ou um passarinho livre como nunca foi durante esta vida? Espero bem que sim porque merece! E se realmente existe karma, agora a Avó devia ser um anjo! Só gostava que me pudesse dizer como é que suportou aquela tristeza, aquele peso durante tanto tempo. Eu só tenho 18 anos e não estou a conseguir aguentar.
     Preciso de uma mudança. Mas uma mudança mesmo radical. Mudar de pessoa, mudar de sítio, mudar tudo! Não me sinto bem comigo mesma e só estou a atrapalhar os meus pais que tanto se esforçam por me dar um futuro. Mas eu também não consigo estar assim. E tenho a certeza que se lhes disser isto eles vão dizer que eu sou preguiçosa e só estou a inventar desculpas para não fazer nada. E secalhar até é verdade, eu não sei, já não sei nada.
     Preciso desesperadamente de um recomeço, de ser outra pessoa. De ser alguém! Eu sou 0 neste momento e isso mata-me todos os dias. Ajuda-me Avó, amo-te muito.


Beijos eternos,
A tua neta, Ana.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Porto,  30 de Dezembro de 2012, 3:06

Querida Avó,

     Escrevo-lhe esta carta para lhe contar tudo. Não sei o que faço aqui, e vejo como meu único inimigo o tempo, que por mais rápido que passe, não é o suficiente. Só quero chegar aquele ponto em que a dor é tanta que adormece, pois diminuir é coisa que já se viu que não vai acontecer.
    Estou só neste mundo. Por mais pessoas à minha volta, não há ninguém. Queria desaparecer, ir para algum sítio, sem ninguém, calmo, digno de paraíso. Esta vida não é para mim. Sinto-me sempre infeliz. Já não sei o que é se sentir feliz há muito tempo, desde 23 de Fevereiro de 2011. Realmente só se sabe o que se tem quando se perde. E não sei como vou sobreviver à sua perda. Quero me sentir feliz e não consigo.
    Quero algo novo, algo que me faça sentir motivada. Perdi a vontade de viver e não posso contar a ninguém, parece-me ridículo de mais. Sou uma desistente e isso mata-me a cada dia que passa. Não vou a lado nenhum assim. Como posso ajudar os outros se estou numa desgraça? Não sei. Já nem sei dizer se esta falta de pachorra que tenho é simplesmente falta de vontade de viver, ou apenas ou desculpa esfarrapada para não fazer nada. De qualquer das maneiras, não me podia deixar pior. Eu não era assim. O que mudou?
     Quero me apaixonar de novo, e se calhar porque sou uma desesperada por atenção ou porque se calhar seria uma distracção desta desgraça que nunca mais acaba. Os dias passam e eu nem me apercebo, nem os vivo na verdade. Avó, porque me deixas continuar nesta desgraça? Porque não me levas daqui? Não estou a fazer nada. 
     Não sei se é da minha auto - estima que é super baixa, mas sinto que ninguém vai voltar a gostar de mim como o João gostou. E até esse está farto de mim, e depois faço as figuras que faço e afasto toda a gente. Será que sou assim tão desesperada que preciso de ter um namorado ou alguém atrás de mim para me sentir feliz? Gostava de descobrir. Avó ajudas-me? Quero saber se isso me deixa feliz, ou se realmente acontecesse ficava na mesma.
     Já não me conheço e isso assusta-me. Já não sei do que sou capaz e neste momento não me sinto capaz de nada. Ajuda-me Avó. Amo-te muito.

Beijos eternos,
A tua neta, Ana.